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quinta-feira, 31 de março de 2011

Fila de espera

É longa a espera, o visitante quase não suporta a dor, mas sua única esperança está à sua frente. Ele não sabe ler, mas sabe que ali é o local o qual chamam de Enfermaria. Por isso, quando um estranho pergunta o que está escrito na placa da porta, ele responde sem medo: “enfermaria”.
A cada segundo que espera, sua dor aumenta. Seus olhos já estão cheios de lágrimas, mas ele resiste e mantém esperança. Aguarda ansioso o momento em que o número 31 será sussurrado pela mulher vestida de branco, que permanece na sala à sua frente.
No corredor há pessoas de todas as origens. Vestidos de todos os jeitos. Carecas, gordos e idosos. Mas nenhum chama a sua atenção. Ele está focado na sua dor.
Quando chegou ali estava desesperado, mas isso não mudou desde então. Não entendia como os outros não podiam ver seu sofrimento, permitindo ser o próximo a entrar na sala da mulher de branco.
“Vinte e nove”, dizia a voz lá de dentro. “Trinta e um” berrava sua dor, se iludindo brevemente. Mas ao passo que percebia que não era ainda sua vez, pensava que haviam chamado o paciente número um, tão distante parecia do atendimento.
Ele olhava para baixo, conseguia enxergar sua dor. Ela estava ali, podia senti-la em suas pernas.
“Número trinta”. Estava perto, mas a sensação era de que quando a voz estivesse começando a falar “trinta e um” o motivo da sua dor fosse embora, levando a sua presença de espírito junto. Não suportaria.
Ansioso, olhava ao redor. Via expressões esquisitas, a maioria de dor, mas sabia que nenhuma se equiparava com à sua dor.
“Trinta e um” e o céu parecia desabar, mas não hoje. Sim, ele conseguiu, entrou na sala e apresentou o motivo de sua dor, que depois de três semanas estava curada. Seu nome era Isabel, tinha cinco anos e acabara de ser alvo de uma bala perdida.

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