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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Banheiro do clube

Miguel entra no banheiro do clube e se depara com uma cena nojenta. Um estranho urinava nas paredes como se estivesse pintando um quadro. Miguel então decide interferir.
- Pare com isso. Podia ser a sua mãe que teria que limpar toda essa nojeira. Você não tem noção das coisas.
O estranho olha firme para Miguel e responde.
- Mas era minha mãe que limpava esse banheiro e ontem eles a demitiram depois de 20 anos de serviço. Humilharam ela na frente das pessoas e a jogaram porta a fora e sabe porque? Porque ela era honesta e não quis aceitar uma proposta indecente do presidente do clube.
Miguel pensa um pouco, anda até o estranho, se põe ao seu lado, abre o zíper e começa a urinar.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Delírios de um Poeta

O poeta senta em sua cadeira, olha pela persiana para a grama molhada, mas nada lhe vem em mente.
Ele ainda pode sentir o cheiro da chuva, que tomou conta do céu durante todo o dia, mas não consegue lembrar-se dos pensamentos que o fizera sentar ali.
Pensa, olha, fecha os olhos e então se lembra.
Paz!
Sim os pensamentos eram de paz.
Ele estava sentado ali para tentar descrever o que sentirá naquela tarde, andando no bosque, sentindo a fina chuva que cai.
O cheiro das árvores parecia que voltava a suas narinas.
Fechando os olhos ele conseguia estar dentro de seus pensamentos, como um fantasma, mas de carne e osso.
Não havia coisas impossíveis naquele instante, afinal era ele que ouvia o canto dos canários, bentevis e tucanos.
Fechando os olhos ele voltava àquele estado de nirvana que o invadirá no bosque.
Mas ele precisava estar de olhos abertos.
Ali estavam poeta, chuva, grama, papel e caneta.
Depois de alguns segundos, apenas papel e caneta, pois sem o poeta a chuva e a grama já não tinham valores.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Foi um prazer

(Homenagem a minha turma de Jornalismo - texto escrito em julho de 2009, em ocasião da minha última fase cursando Jornalismo)

Depois de uma longa jornada, enfim, o caminhante chega ao seu destino. Somos todos caminhantes e chegamos ao fim de mais uma etapa. Acabaram as aulas. Há duas semanas eu não dava tanto valor a esse dia. Hoje já estou com saudades. Foram três anos e meios, entre risos, brincadeiras, choros e brigas. Foram três anos inesquecíveis, ao lado de pessoas inimagináveis. Foi um prazer estar ao lado de vocês. Entre colegas, amigos e amigos do peito, criei uma família. Um grupo, que pode até não ser o mais unido, mais que foi o meu grupo nesses últimos semestres. No fim, vejo que queria mais alguns dias com vocês, mas o meu adeus já foi dado. O que tenho a fazer agora é aguardar pelos encontros ocasionais - é tão duro dizer que nossos encontros serão ocasionais. Aguardar por aquele forte abraço nos primeiros reencontros. Forte abraços que com o tempo serão substituídos por pequenos acenos, assim é a vida, infelizmente. Fico imaginando o que será de cada um de nós. Não sei dizer. Mas sei que essa será uma pergunta constante de nossos reencontros. Talvez nossas conversas se resumam a isso, a saber como e onde estão. Talvez nem isso. Acima de tudo, quero dizer que sentirei a falta de vocês, daqueles que fizeram parte da melhor época da minha vida.
Aguardo pelos fortes abraços ao longo dos anos e rezo para que eles não cessem com o tempo. Rezo para que a maioria de vocês não se tornem ocasionais.
Foi um grande prazer, os levo para minha vida.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Religião, Páscoa e Crise

Quem me conhece sabe que sou católico, mas há algum tempo estou em crise sobre minha [ou não] religião. Digo isso porque acho que a verdadeira fé é aquela expressada fora de quatro paredes, com atitudes e gestos. Não acho que o ir à igreja, o seguir rituais ou sacramentos seja algo tão indispensável [me crucifiquem se estou errado, mas é assim que penso]. Acho que o indispensável é a forma como agimos perante a sociedade..

Mas, como todo bom filho de uma boa mãe e de um bom pai [falo sério], vou a missa, às vezes, e como é páscoa, fui na vigília e também subi o calvário e é aqui que entra o porque desse texto. Subindo o morro, lendo as estações, quinze no total, percebi que ali moram aprendizados, ensinamentos, traduções da vida do ser humano. Aquele caminho em que Cristo percorreu nos seus últimos dias é na verdade os caminhos que percorremos diariamente.
Na primeira estação vemos a condenação à morte. Quantas vezes somos acusados de coisas que não somos? Nossa sociedade nos julga pela imagem e esquece de ver quem verdadeiramente somos. Talvez por medo de ver o que somos capazes de fazer.
Em seguida é colocado sobre Cristo a cruz e ele passa a carregá-la, mesmo sem forças para isso. Cada um de nós tem sua cruz. Diariamente olhamos para nossos ombros e tememos não conseguir levá-la adiante, mas somos teimosos e seguimos. Ele seguiu, mesmo carregando a cruz que não lhe pertencia e muitas vezes nós também carregamos cruzes que não são nossas, mas somos forçados a isso. Mas aqui já entra a estação em que Simão carrega a cruz de Cristo.
Na terceira, sétima e nona estação Cristo cai. Vejam só, ele não caiu apenas uma vez, mas três. Essa é uma das principais mensagens que vejo aqui. Pois as quedas são constantes durante nossa vida. Vamos cair sempre, para sempre nos levantarmos. Cada queda é um aprendizado e aquele que enxerga assim com certeza levanta mais forte.
Há o momento em que Cristo encontra sua mãe. Em nossa vida, por várias vezes vamos encontrar nossa mãe. As mães nos dão força, mostram que todo o sofrimento que passamos não será em vão. Elas nos amam acima de tudo.
Na sexta estação Verônica limpa o rosto de Cristo. Mesmo quando todos estão contra nós e nos jogam pedras, haverá alguém que estenderá uma mão. É só olhar bem na multidão que veremos um amigo. Aqui também entra o encontro com as mulheres de Jerusalém. Pessoas que choram por nossas quedas.
Então, despojam Cristo de suas vestes, o deixam nu. Na vida, há inúmeros momentos em que nos deixam sem chão, em que nos tiram tudo aquilo em que acreditamos. A sociedade, às vezes [ou sempre], é cruel, mas mesmo assim precisamos continuar, nus.
Em seguida o pregam na cruz. Dor. Nudez. Multidão contra. Raras as pessoas tem que passar por isso, mas há quem passe. Cristo persistiu, ele não parou. Não podemos parar, precisamos continuar sempre.
A próxima estação demorei para entender, que é quando ele morre. Só fui entendê-la quando cheguei à décima quinta estação, à ressurreição. Há momentos em que precisamos morrer, simbolicamente, para que então renasçamos. Nem sempre seguimos caminhos corretos, muitas vezes nos desviamos do que é certo, então precisamos recomeçar, morrer para ressuscitar.
Antes da ressurreição ainda há estação em colocam Cristo nos braços de sua mãe. Quem nunca voltou para a mãe quando precisava recomeçar? Voltar ao inicio é a melhor forma para ter um novo começo. Aqui também entra o momento em que ele é enterrado, precisamos muitas vezes enterrar o passado para poder ressuscitar. Para poder seguir em frente..

Talvez isso seja apenas uma completa viajem..
Mas eu vejo assim nesse momento.
E já que a vida é feita de momentos..