Assim como em
todas as manhãs, o celular me acorda. Lhe dei “Bom dia” e tentei abrir os
olhos, mas achei melhor me encostar nela antes. Afinal, sempre gosto de sentir
seu abraço logo pela manhã.
Vazio. A cama
estava vazia. Ela não estava lá. Olho pela casa, mas nenhum sinal dela. A mesa,
que costuma estar com a tolha que ela gosta, estava nua, apenas com um vidro vazio.
A casa está em
silêncio. Onde estarão nossos gatos? Começo a entrar em desespero.
Aciono meus
amigos pelo celular: “Minha esposa sumiu”. As respostas vêm rápidas: “Como
assim sua esposa sumiu?”. Logo, meu irmão bate na porta. Embora sempre
prestativo, dessa vez ele me surpreendeu na rapidez. Começo a desconfiar: o que
será que estão escondendo?
Ele tenta me
acalmar, mas não consigo. Vou até a polícia, mas me impedem de registrar o
desaparecimento dela. Estou com medo.
Meu outro
irmão me encontra na rua: “vamos para casa”. Não posso! Tento explicar a ele
que preciso encontrá-la! Ele insiste: “se acalme, tente lembrar”.
Lembrar o que?
Ontem foi mais um dia comum. Ela voltou do escritório em que trabalha e eu
estava escrevendo meu livro. Antes tinha ido em um clínico geral que trabalha
com terapias alternativas, passei na farmácia e comprei a medicação, aquela vidro
que estava sobre a mesa. Fomos dormir. O resto era um pesadelo.
Tudo fica
confuso. Desmaio.
Acordo em um
quarto branco. Consigo visualizar minha mãe e meu pai do lado de fora do
quarto. Minha mãe está apreensiva. Meu pai está feliz: “Doutor, ele vai
conseguir perceber que era tudo imaginação?”.
Imaginação?
Impossível! Ela estava ali, sempre esteve, nos últimos 25 anos. Os gatos... Não
pode ter sido imaginação. Nossos amigos vinham até nossa casa, convivíamos
juntos.
Doutor! Dou um
berro e os três vêm até mim: me expliquem, por favor! “Você tem uma doença”.
Ele continuou a explicação, mas só aquilo que peguei. Uma doença... Como?! O
remédio... Preciso voltar para casa. Preciso encontrar aquele médico.
Os encontros
não são felizes. Pesquiso o remédio e ele é um medicamento em fase de teste. O
médico era um psiquiatra. Será? Não, não e não!
Me acalmo.
.
.
.
Alguns dias
depois meu irmão mais novo me encontra. Eu estava na casa de praia de nossos
pais: “Tudo bem com você?”. É claro que estava. Ele procura o remédio e vê que
está ali: “aceitar é mais fácil meu irmão, estávamos preocupados”.
Não precisam
ficar. Estou feliz...
Com minha
esposa e meus gatos, vivendo na praia...