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domingo, 23 de outubro de 2016

Devaneios: Vazio

 
Assim como em todas as manhãs, o celular me acorda. Lhe dei “Bom dia” e tentei abrir os olhos, mas achei melhor me encostar nela antes. Afinal, sempre gosto de sentir seu abraço logo pela manhã.
Vazio. A cama estava vazia. Ela não estava lá. Olho pela casa, mas nenhum sinal dela. A mesa, que costuma estar com a tolha que ela gosta, estava nua, apenas com um vidro vazio.
A casa está em silêncio. Onde estarão nossos gatos? Começo a entrar em desespero.

Aciono meus amigos pelo celular: “Minha esposa sumiu”. As respostas vêm rápidas: “Como assim sua esposa sumiu?”. Logo, meu irmão bate na porta. Embora sempre prestativo, dessa vez ele me surpreendeu na rapidez. Começo a desconfiar: o que será que estão escondendo?
Ele tenta me acalmar, mas não consigo. Vou até a polícia, mas me impedem de registrar o desaparecimento dela. Estou com medo.
Meu outro irmão me encontra na rua: “vamos para casa”. Não posso! Tento explicar a ele que preciso encontrá-la! Ele insiste: “se acalme, tente lembrar”.

Lembrar o que? Ontem foi mais um dia comum. Ela voltou do escritório em que trabalha e eu estava escrevendo meu livro. Antes tinha ido em um clínico geral que trabalha com terapias alternativas, passei na farmácia e comprei a medicação, aquela vidro que estava sobre a mesa. Fomos dormir. O resto era um pesadelo.

Tudo fica confuso. Desmaio.

Acordo em um quarto branco. Consigo visualizar minha mãe e meu pai do lado de fora do quarto. Minha mãe está apreensiva. Meu pai está feliz: “Doutor, ele vai conseguir perceber que era tudo imaginação?”.
Imaginação? Impossível! Ela estava ali, sempre esteve, nos últimos 25 anos. Os gatos... Não pode ter sido imaginação. Nossos amigos vinham até nossa casa, convivíamos juntos.
Doutor! Dou um berro e os três vêm até mim: me expliquem, por favor! “Você tem uma doença”. Ele continuou a explicação, mas só aquilo que peguei. Uma doença... Como?! O remédio... Preciso voltar para casa. Preciso encontrar aquele médico.

Os encontros não são felizes. Pesquiso o remédio e ele é um medicamento em fase de teste. O médico era um psiquiatra. Será? Não, não e não!
Me acalmo.
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Alguns dias depois meu irmão mais novo me encontra. Eu estava na casa de praia de nossos pais: “Tudo bem com você?”. É claro que estava. Ele procura o remédio e vê que está ali: “aceitar é mais fácil meu irmão, estávamos preocupados”.
Não precisam ficar. Estou feliz...

Com minha esposa e meus gatos, vivendo na praia...





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